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Como lacunas na formação prejudicam profissionais do sensoriamento remoto

Prof. Dr. Gustavo Baptista
Composição falsa cor R3G4B1 de dados WPM CBERS4A fusionados com 2m de resolução espacial

O sensoriamento remoto é uma ciência com amplas perspectivas para os que pretendem construir uma carreira nessa área. As imagens obtidas por sensores em diversas plataformas e as interpretações que possibilitam servem aos mais diversos propósitos investigativos, o que torna o mercado de trabalho cada vez mais promissor para aqueles que se habilitam a processá-las.

Em muitas carreiras, observa-se um fenômeno interessante: após a graduação em nível superior, o indivíduo ingressa no mercado de trabalho, muitas vezes, com um conhecimento superficial que a vivência profissional vai aprofundando e refinando.

Em sensoriamento remoto, a formação acadêmica geralmente se dá por meio de uma ou duas disciplinas inseridas na grade curricular de cursos como Geografia, Ciências Ambientais, Agronomia, Engenharia Ambiental, entre outros. É de se esperar, portanto, que o estudante tenha pouco tempo e limitadas oportunidades para se apropriar dessa ciência. Muitos recorrem a especializações ou ingressam em cursos de mestrado ou doutorado para aprofundarem seus conhecimentos.

Há 30 anos me dedicando à formação de estudantes de graduação e pós-graduação, sempre ficou evidente para mim as dificuldades encontradas por esses estudantes ao processar imagens de satélite. O domínio do software, que garante segurança nos comandos para as operações de processamento, cria a falsa sensação de compreensão dos fenômenos observados.

Processar imagens de satélite não se restringe a realizar operações para atingir determinado resultado. Trata-se principalmente de dominar o conhecimento que jaz subliminarmente às sequências do processamento. É preciso entender a espectroscopia, dominar os conceitos físicos associados à interação da radiação com os diversos alvos e compreender como isso se materializa numa imagem.

Os sensores mudam o tempo todo, mas a base conceitual é a mesma e se aplica a todos. Basta ajustá-los à nova tecnologia. Esse domínio teórico é o diferencial de um profissional do sensoriamento remoto. É sua garantia de autonomia, competência e destaque no mercado de trabalho. Ironicamente, todavia, é justamente essa a lacuna que sempre identifiquei nos estudantes com quem tive a oportunidade de trabalhar.

Esta semana, provoquei minha audiência para sondar a realidade de quem efetivamente vê no sensoriamento remoto seu futuro profissional. Fiz uma pergunta direta: você se vê trabalhando com sensoriamento remoto daqui a 10 anos? Este foi o resultado da enquete que fiz no Instagram, no meu canal no Telegram e no LinkedIn:

imagem mostrando o resultado da pesquisa feita pelo professor
clique para ampliar

Na sequência, pedi que as pessoas me contassem quais as dificuldades que enfrentam para trabalhar com sensoriamento remoto. As respostas confirmaram o que venho percebendo no contato mais próximo com profissionais já inseridos no mercado de trabalho: a falta de domínio teórico, que eu já percebia com os estudantes, persiste e assombra a carreira de muitos desses profissionais.

Ao contrário do que ocorre em outras profissões, a vivência profissional não supre a fragilidade na formação. Ao contrário: torna essa lacuna ainda mais evidente!

É essencial perceber essa realidade e compreender que não se trata de demérito à pessoa que trabalha com o processamento de imagens de satélite, mas reflete as circunstâncias próprias de sua formação acadêmica. Encarar o problema dessa maneira permite que se percorram caminhos alternativos para alcançar o domínio teórico necessário. Essa meta de conhecimento, que significa qualificação profissional e se torna um diferencial na carreira não só é possível, como está muito mais acessível do que se imagina. Você já se deu conta disso?Faço parte de um grupo de cientistas que cruzou os limites do mundo acadêmico e se valem dos recursos da realidade virtual para difundir conhecimento. No mundo digital, realizo palestras e webinars, criei uma comunidade específica de processamento de imagens de satélite e fui o primeiro a falar em português sobre sensoriamento remoto em podcast. Tudo isso tem me permitido estar mais próximo de quem está nessa área, mapear suas demandas e compartilhar meu conhecimento e minha experiência, de modo a ajudar todos os que investem na continuidade de sua formação para superar as limitações que experimentam no campo teórico.

O GeoSensor tem como meta a divulgação de conteúdo de geociências com foco na sua aplicabilidade nos ambientes profissional e acadêmico. Reserve um espaço na sua agenda e venha pensar um pouco sobre isso com a gente! Nos acompanhe.

Um grande abraço!

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